terça-feira, 2 de novembro de 2010

Meu Lamento



 Meu Lamento

Eu, morador da cidade de Florianópolis, SC, sempre tive  curiosidade em conhecer o Planalto Serrano, especialmente a cidade de Lages.
As férias chegaram e tudo se ajeitou.
Aluguei um carro e convidei meu filho mais velho para acompanhar-me neste sonho.
Assim nos despedimos da esposa e mãe Sofia, que não poderia nos acompanhar porque estava com agenda cheia. Ela ficou na varanda da casa jogando beijinhos e nos desejando: boa viagem.
Logo liguei o carro e o som. Sem pressa, tomando todos os cuidados possíveis, seguimos viagem.
 Com alguns quilômetros percorridos avistamos uma multidão,  pessoas que pareciam soltar “fogo pelas ventas”.Parei o carro para ver o que realmente estava acontecendo,  de repente ouvi uma frase que ressoou como uma bomba:
– Que belas tabuas perdidas!
Foi a lamentável frase que ouvi de um turista, que não teve compaixão ao ver um tronco de um Pinheiro “Araucária” caído no asfalto.
Fiquei surpreendido ao ver tantos turistas aflitos...cada qual dava sua opinião.
 Naquele instante, sentindo a crueldade do homem, fiquei triste, com toda aquela confusão, adentrei com meus pensamentos e minha alma     naquele tronco sem vida.
 Senti em minha alma a dor do pinheiro. Ali eu fiquei, ouvindo tantos comentários maldosos de pessoas que reclamavam por um órgão responsável para ser feita a retirada.Ninguém percebeu o lamento daquele pinheiro ao ser afastando das suas raízes pela  motosserra .
Logo ouvi o motor acelerado do caminhão-guincho que chegara para fazer o resgate.E sem mostrar nenhuma piedade, o motorista arrogante falou:
—Espertinho heim! Pensaste que me enganarias? Teu destino está traçado! Seguiremos para a serraria e depois à Fábrica de Papel.
E o tronco foi retirado da rodovia... Jamais poderia escapar das correntes e cabos de aço que o prendiam.Agora eu sabia qual seria o destino do amigo,caído no asfalto.
Senti em meu ombro o toque da mão de meu filho: papai! Papai! —Vamos seguir viagem?
Voltei à realidade, sabendo que jamais esqueceria o lamento e as dores do pinheiro.
A passagem foi liberada para os curiosos e apresados. Em uma fria manhã de outono, coberta pelas brumas, os turistas, eu e meu filho, chegamos à cidade de Lages.        
                                                  

Lages, SC, 03/07/07.


Crônica, editada na Antologia Carretão – “Operários Literários”,páginas: 89,90.
Organizado pela ALE – Associação Lageana de Escritores.
Julho de 2010  


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