quinta-feira, 30 de junho de 2011

Limite

Limite do sofrimento

Era tarde da noite quando Altino, cantarolando, com o caminhar em ziguezague,quase sem o domínio das pernas chegou em casa para o jantar.Trazendo uma garrafa de pinga embaixo do braço, ele foi logo dizendo:
─ Mué arruma ai o feijão que hoje tou cum fome.
Enquanto Eva sua esposa ajeitava a panela de feijão sobre a mesa, Altino, levado pelo álcool, começou agredi-la. Empurrou a esposa, fazendo-a cair de bruços ao chão.
A pequena filha Bianca com lágrimas nos olhos gritou:
─ Mamãe não morra...!
Mas suas palavras foram caladas pelos “berros” daquele pai.
Altino, ainda sem consciência do mal que havia feito, pegou a panela de feijão remessou-a contra a parede e, pisou forte sobre a mesma.
Bianca, na sua inocência de criança, tentava retirar com uma colher, no espaço que restou daquela panela amassada, alguns grãos de feijão para saciar a fome.Comia o feijão misturado as lágrimas...
Enquanto isso, Eva permanecia desmaiada...Depois de alguns minutos recobrou a consciência e viu seu esposo deitado no chão da cozinha exalando o cheiro da cachaça.E, neste instante, ela maldiçoou seu casamento. Era preciso pensar para agir!
Levou Bianca para a cama rezou junto à filha.Deixou aquele quarto para dormir no quarto ao lado.Porém, agora,estava invadida por vários pensamentos.Nunca mais seria humilhada.Muito menos por aquele homem bêbado, que tantas juras de amor lhe fizera.Mil pensamentos lhe passavam pela cabeça.
Depois de rolar muito de um lado para o outro, conseguiu dormir.Somente foi acordada quando o sol adentrou pela fresta da janela.Ainda sentindo muitas dores no rosto e tórax, levantou, observou que algo estava errado.Foi até o espelho e ali se viu: um verdadeiro monstro pelas agressões do marido.
Ao ver o esposo estirado e roncando naquele chão da cozinha, ela não teve compaixão, apanhou o machado e decepou-lhe a cabeça, para nunca mais sofrer. O resto das migalhas de feijão uniu-se ao sangue do Altino.
Eva pegou sua filha pela mão. E antes mesmo das pessoas acordarem, no silêncio daquela manhã, enfrentando o frio do inverno, seguiu pelo caminho que levaria a outro destino.
Altino foi encontrado, por curiosos que perceberam os abutres rodando a casa.Nenhuma pista restou de quem o matou.
No bolso de sua calça havia um bilhete que dizia:
“Te amo, mas fui obrigada visitar mamãe, logo voltarei para nosso ninho de amor.EVA”.

Livro- Entre sem bater-Caderno de autoria SESC- p 48,49.Autora Ivone Daura

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