segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Camas vazias

Leila quando saía de casa mexia com os corações dos meninos.Os bolsos de suas roupas ficavam cheios de bilhetinhos apaixonados.Ela sempre mostrou-se solidária com as pessoas que pediam-lhe ajuda.Seu sorriso contagiava a todos que a cercavam.Para ela não existia diferença entre o rico e o pobre, o branco e o negro, o feio e o bonito, o letrado e o analfabeto, o gordo e o magro...
Foi em uma Festa Natalina que ela conheceu o jovem Antônio.Apaixonou-se pelo moço estranho que havia chegado à cidade.E desse encontro nasceu o verdadeiro amor que a levou ao matrimonio.E dessa paixão nasceram três filhos:Gilberto,Márcio e Alexia.
O maior sonho de Leila foi estudar os filhos.Mesmo que ela tivesse um passado cheio de glória queria que seus filhos tivessem além... e chegassem aos bancos Universitários.
A vida não lhe deu muita escolha e ela teve que deixar as coisas que amava para ser boa mãe e esposa.
Seus cabelos castanhos claros agora já estavam prateados, e as primeiras rugas alquebravam no rosto de quem outrora tinha a pele suave que mais parecia ser de uma boneca.
Por mais que a vida mostrasse as avalanches de dificuldades ela vencia com otimismo. Nunca deixou de sonhar...Sempre ao lado do esposo Antônio encontrou o apoio que tanto precisava.
Trabalhou muito para ajudar o esposo e também para realizar o sonho que almejou na vasta jornada.
Sonho realizado.Dia de festa, seu filho primogênito Gilberto concluiu a faculdade.Quantas alegrias!
Mas o retorno ao lar, lágrimas brotaram nos olhos de Leila ela percebeu a primeira cama vazia.
O filho Marcio, também concluiu os estudos.Segundo sonho realizado.Leila, embora não quisesse demonstrar a dor da separação despediu de Márcio com um sorriso nos lábios, desejou-lhe sucesso nos dias vindouros.Quando entrou porta adentro de sua casa, viu a segunda cama vazia.Chorou sozinha sem que ninguém percebesse o vazio daquela casa sem o sorrisos e brincadeiras dos filhos.
O tempo passou rápido ela nem deu conta que agora restavam naquela casa três pessoas: ela, Aléxia e Antônio o companheiro de todas as horas, que sempre teve tempo disponível para fazer-lhe carinho e dizer: – “hoje você está linda...”
Agora nova batalha. Alexia entrava na faculdade, para estudar Ciência da Computação, prometeu nunca sair de juntos dos pais.Ela era a íris daquela casa.
E no segundo semestre dos estudos uma doença chegou com força e a fez romper a promessa feita aos pais, deixando o vazio da sua presença para Antônio e Leila, a morte levou a filha que eles tanto amavam.


Choraram por sonhos desmoronados. Leila chorou lastimou e disse: ––talvez se não tivesse a ideia fixa de estudar os filhos não estariam tão sozinhos.
Levaram muitos anos para acostumar na casa grande com camas vazias. Para deixar o ambiente alegre ,Leila, enfeitou as camas com alguns brinquedos que restaram.
Mas, Antônio nunca se conformou com as falcatruas da vida e deixou-se abater pelo infeliz destino de ter perdido a única filha, e novamente a doença chegou arrebatando mais sofrimento. E numa manhã de verão antes mesmo do sol nascer a véspera de natal, ele fechou os olhos para sempre.


E Leila adentrou em sua casa olhou para seu quarto e viu mais um espaço vazio.
Lembrou o que o marido havia lhe dito – por mais que o destino fosse difícil haveria retorno.Os filhos são o complemento do casamento.Para ela ainda restavam: Gilberto e Márcio.
Leila sentiu seu mundo desmoronar tudo que um dia sonhou – apenas sobrou um punhado de cinzas no coração abatido. Não parece mais à pessoa que esbanjou alegria.
Seus lábios trazem um sorriso triste e a certeza de uma perdedora.
E no seu romantismo ela gravou na mente que seu melhor amigo se chama: Sol.Com ele ao seu lado, nunca anda sozinha, porquê ele desenha sua imagem.
Desiludida às vezes conversa com a sombra e dança para vê-la bailar... Reclama com freqüência de um mundo contraditório.Ficou presa a uma grande dor.É difícil olhar para Leila e não dizer: – será que um dia ela foi feliz de verdade?
Talvez até respondesse – somente se não existisse a morte.
As folhas de seus álbuns são folheadas diariamente, para rever a menina de outrora e comparar com a mulher frustrada pelas amarras do destino.
Ela detesta a chuva, fica amargurada em cada pingo que escorre pelo telhado sente que junto dele escorre a saudade do passado.
Da bela menina chegou a uma grande mulher,e de uma grande mulher passou ser o símbolo da derrota.
Assim mesmo ela sempre alerta os amigos – os sonhos são construtivos e passiveis e não impossíveis.Ninguém vive sem sonhar...Ninguém pode fazer sua escolha, mas ser o escolhido.

Texto: Ivone Daura da Silva
Lages,outubro de 2008.

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