quarta-feira, 11 de maio de 2011

Pétalas de Rosas

Pétalas de Rosas                       

            Sempre que Marina passava pela avenida observava uma linda menina na janela.Tinha tranças compridas, era sorridente e gostava de jogar pétalas de rosas lá do alto da janela para muitas crianças que passavam a caminho da escola.
            As crianças estavam acostumadas a tamanha façanha e algumas até mesmo olhavam e diziam: ”Obrigada, menina da janela! Que Deus te dê muitas rosas no decorrer de tua vida”.
            Um dia, Marina, uma das meninas que costumava colher da calçada as pétalas de rosas, sentiu grande curiosidade.Desejava chegar perto da menina sorridente.
            Chegou até à porta, tocou a campainha e teve uma grande surpresa: a menina da janela não permitiu que a porta fosse aberta.
            Apenas jogou para Marina um botão de rosa.Marina pegou o botão de rosa e saiu pensativa.Pó que será que ela não quis abrir a porta? Será que achou que eu estava mal arrumada, ou, quem sabe, achou-me feia?
            Marina ficou triste.Continuou a passar em frente à casa da menina alegre, porém não olhava mais para a janela nem sequer juntava as pétalas de rosas que caíam sobre a calçada.Afinal talvez aquela menina fosse ambiciosa, orgulhosa, pois nem freqüentava a mesma escola.Talvez apenas quisesse “se mostrar” com aquele sorriso que contagiava a todos que passavam pela rua.
            Marina não estava conformada.Era preciso descobrir a verdade, mas como? A menina não queria recebê-la.
            Tudo aquilo fazia um emaranhado na sua inocente cabeça.Um dia ela parou defronte àquela janela, mas viu que a mesma estava solitária.A menina alegre não estava na janela.Marina movida por um impulso, tocou novamente a campainha. A porta foi aberta e apareceu uma senhora, com os olhos vermelhos de chorar e perguntou:
            -O que desejas?
            -Marina, ainda muito desolada, falou:
            -Quero conversar com a menina alegre que joga pétalas de rosas para as crianças que passam pela rua.
            Aquela senhora apenas perguntou:
            -Você tem certeza de que está falando de uma menina alegre?
            Sim!Outro dia vim aqui, ela não quis me receber.
            Então Marina entrou naquela casa com um olhar desconfiado falando da menina alegre.No entanto, aquela senhora desabafou falando da menina da janela.
            Ela fica amarrada em uma cadeira de rodas, todos os minutos de sua vida.Foi há muito tempo que ela sofreu uma paralisia.Contudo, fica feliz quando está na janela, e se realiza em ver a felicidade das outras crianças.Sua liberdade foi rompida no seu segundo aniversário.
            Porém, faz uma semana que passou uma menina sem olhá-la.Ela sofreu muito com este desprezo.E entrou em depressão profunda.
            Marina sentiu que ela era a menina, correu até o quarto abraçou Maria Cecília, pediu perdão e prometeu que seria sua melhor amiga.
            Prontificou-se em ajudá-la com a cadeira de rodas, e a acompanhá-la sempre que precisasse de sua companhia.A menina da janela sentiu que,mesmo  presa àquela cadeira,não precisaria  fingir que era feliz porque na vida ela era feliz em todos os sentidos .O importante era amar a vida.
            Aceitou sua deficiência.E surgiu ali a mais recíproca amizade, deixando espalhar, aos quatro cantos da cidade, a notícia de que Maria Cecília não tinha o domínio de suas pernas, no entanto, tinha os braços e as mãos que ajudavam a fazer seus dias diferentes.Sabia sorrir.E, por meio do seu sorriso, conquistou outras crianças.
            E também aceitou a idéia de ser mais uma aluna da escola.Ela sabia que Marina sempre estaria ao lado, transmitindo seu afeto.Ajudando-a espalhar muito mais pétalas de rosas.



Editado no Carretão  N.8- páginas 58,59 -Lages,agosto de 2005- Organizadora Maria de Loudes Varela Binatti- ALE- Associação Lageana de Escritoress