segunda-feira, 11 de julho de 2011

Minha Festa

Minha Festa

No Clube Diamante do centro da cidade, Ricardo festejava seu aniversario entre vários amigos.Deu entrevista e pousou com os convidados uma foto para o jornal.Seria uma noite inesquecível: abraços, presentes, bebidas e muita comida fizeram a festa dos seus vinte e cinco anos.
Porém, teria que ir para casa, sabia do compromisso logo ao amanhecer.Ele trabalhava 15 quilômetros de distância, e o patrão não era nada tolerante.
Os amigos se foram. O relógio marcava duas horas.
Sentindo intensa alegria, olhou para o céu e conversou com as estrelas, que mais parecia o alfabeto unindo as letras e respondendo brilhantes, suas perguntas.Chegou em casa, falou para a esposa Marlene:
— Sou o homem mais feliz da face da terra...
Olhou para o sofá, viu seu cachorro deitado lhe esperando. Quando foi brincar com seu amigo, Marlene o fez recordar que teria compromisso de ir trabalhar e o relógio não parava...
Ricardo deitou cansado e dormiu feliz. Nem ouviu o relógio despertar.Acordou com meia hora de atraso.Levantou rapidamente trocando os seus chinelos pelos da Marlene.
Uma dor terrível de barriga fez ele ir ao banheiro ”todo borrado”. Quando foi fazer a higiene: cadê papel?
Foi então tomar banho; quando ligou o chuveiro: cadê água?
A todo instante ele olhava o relógio...
Não daria tempo para o café, mas faria um chá de macela para tirar o enjôo.Porém: cadê gás?
Saiu apavorado, chegou na garagem, ligou o carro: cadê gasolina?
Estava se sentindo uma ave fora do seu habitat e resolveu chamar um táxi.Ainda estava em tempo para chegar ao trabalho.
Após rodar 2 quilômetros o táxi rodopiou na pista batendo contra um muro. Ricardo e o motorista sofreram pequenas lesões.O taxista ainda tentou levar o passageiro, mas quando ligou o carro: cadê embreagem?
Inconformado, Ricardo acenou para o primeiro ônibus que passou. Após 3 quilômetros de viagem, foram parados por uma blitz.Ninguém poderia deixar o ônibus.E lá se foi... mais uma hora.
Quando liberados, ele estava exausto, horrível, mal -cheiroso pelo transtorno daquele dia.
Chegou no trabalho e deu de cara com o patrão. Olhou em cima da escrivaninha e viu sua foto com os amigos na primeira página do jornal.Sentiu vontade de comer aquele jornal diante o patrão, e se engasgar com o seu próprio ódio. Quem sabe assim passaria o enjôo.Como dar explicações por tudo que havia passado até chegar o local de trabalho? Cadê coragem?
Com a cara horrorosa o patrão entregou a advertência de quinze dias.
Ricardo voltou para casa exausto e decepcionado e, para sua surpresa, Marlene o esperava com um televisor que comprara a prestação.
Ele apenas olhou e perguntou:
— Chegou água?
Ela olhou torceu o nariz e disse:
— O caminhão que trouxe a TV furou o cano. Tomei banho na casa da vizinha.
Desanimado, Ricardo entrou em casa sem nada falar.Estava com medo até da sua sombra. Seu cachorro latiu mostrando a correspondência sobre a mesa.Ricardo abriu e leu o número premiado do bilhete de loteria que tinha ganhado de presente no aniversário.
Naquele instante, sentiu a grande virada da sua vida. Esqueceu tudo e mandou o patrão para o inferno.

Livro Entre sem bater- 50,51,52.Autora- Ivone Daura

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