quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Contos & Causos na Coxilha Rica


Viajando pelos campos verdejantes de Coxilha Rica
Conheci a senhora Maria Teresinha Vieira do Nascimento, em uma reunião na ALE. Em suas mãos trazia folhas soltas e em seus pensamentos um sonho de escrever um livro. Com a ajuda mútua desta instituição ela publicou seu primeiro livro, constando 120 páginas neste ano de 2014.
“Contos e Causos na Coxilha Rica”, constituindo-se numa bela sequência de agradáveis narrativas, em linguagem pitoresca, onde a autora consegue retornar ao passado com fidelidade e detalhes que a memória não olvidou.
Um convite ao leitor para deixar por alguns momentos a vida urbana e viajar pelos campos verdejantes, ornados pela arte rústica das taipas, intercaladas às sombras generosas das araucárias remanescentes que, hoje preservadas, permanecem como guardiãs daquele pedaço de chão da Serra Catarinense.
A escritora Maria Teresinha traz à tona o saudoso passado resgatando para o presente o diálogo com a família,causos e estórias desse recanto de solo serpenteado de rios,que parecem abraçar e proteger as belas paisagens da Coxilha Rica,incrustada em terras Lageana.
Não posso deixar de escrever uma síntese do conteúdo que expressa a narrativa verdadeira. (p.79)
A maior neve do século
Era cinco de agosto de mil novecentos e cinquenta e cinco. Um dia de inverno! O vento minuano soprava rajadas que uivavam nas cumeeiras dos galpões, no vale da Fazenda da Roseira. Havia prenúncio de neve. No céu grossas nuvens se deslocavam com rapidez e logo começou a chover.
Nesse momento, a Rádio Farroupilha de Porto Alegre, anunciou em edição extraordinária, através do Repórter Esso, que já estava nevando em Vacaria.
Meu pai subiu as escadas que conduzia à varanda da casa grande e ao ouvir a notícia, logo sintonizou na Rádio Clube de Lages, que também informava que havia neve em São Joaquim e na região. Era o início do mais belo espetáculo da minha vida. Meus pais juntamente do amigo Antonio Vargas fizeram fogo no galpão e, colocaram mais lenha no fogo de chão da cozinha.
João Maria desceu o morro debaixo da neve.
─ Padrinho!Voltei para cá porque lá no mato a neve começou a quebrar os árvores!Os gados assustados saíram do mato e foram para o rodeio. Algumas reses estão presas, sem poderem sair de lá.
─ Por que não puderam sair João Maria?
─ Não tem como sair! As árvores estão lascando de cima para baixo, fechando todo o mato! A estrada não tem saída e nem como o gado entrar para se protegerem. Muitas reses estão feridas.
O que poderemos fazer João Maria?
─Nada pode ser feito, somente, Nosso Senhor Jesus Cristo poderá nos ajudar ─ falou João Maria retirando o chapéu em reverência.
Ficamos todos ao redor do fogo, demais preocupados, de repente ouvimos alguns estalos na casa,e então meu pai gritou:
─ Gente, vamos puxar a neve de cima da casa senão o telhado vai cair. Foi feito um rodo de madeira, com o cabo comprido meu pai e meu irmão subiram para a retirada da neve. Logo se deslocaram à Chapada para ver o gado, já que no mato não poderiam se esconder do frio. Quando voltaram informaram que os mesmos caminhavam sem parar, todos juntos em círculos deixando o rastro na neve.
Nossa! Exclamou meu pai ─ É o instinto animal, para se protegerem desta catástrofe. A neve já dava na cintura das pessoas e acumulava-se sobre os pinheiros formando um belo cartão postal retratando a Suíça brasileira. Jamais vou esquecer este episódio que marcou minha vida e de todos os moradores da região.
Maria Teresinha. É maravilhoso trazer na bagagem estórias que fazem a diferença nos dias atuais. Sabemos que a maiorias das casas não possuem fogão de lenha e se voltasse acontecer essa nevasca, morreriam famílias inteiras em seus barracos.
Obrigada amiga por escrever esse livro que traz nas páginas, contos e causos que irão passar às próximas gerações verdades e fantasias. Dessa mulher que travou o registro de amor à família e belos acontecimentos auspiciosos em seu percurso de vida .
Atenciosamente: Ivone Daura da Silva.

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